Estava diante da janela. E a imagem além desta se fazia inexistente. A inexistência a levava a um tempo ancestral.
Atrás dela, ele e a porta: semicerrada.
Ela, em alguns instantes, num átimo de esquecimento, imagina-o olhando-na; talvez ele ainda a desejasse, pensava. Sentia-o vindo em sua direção, os braços dele envolvendo os seus. A miragem se desfazia; outra vez a imagem além-janela.
Atrás desta imagem estaria, talvez, a cidade. Ele costumava caminhar com ela pelas ruas, até que encontrasse um lugar "que eram os dois", ele dizia. Ela nunca gostava do lugar escolhido, mas também não se importava, ele estava ali. Agora, os lugares habitavam o esquecimento.
As mãos dele no ombro dela; desciam até ficar mãos nas mãos. Um leve suspiro dela. Enganara-se: lembrou-se do eterno ritual da despedida. Novamente a janela. Ela que lhe dava sempre a última lembrança dele, assim que ouvia a porta se fechar. Último enquadramento antes do próximo depois.
Mas ela já estava à janela. A porta nem sequer lhe anunciou. Olhava algo além da janela: talvez estivesse revisitando sua memória. A janela diante de si, a porta atrás: cerrada. Na sala, somente ela.
Uma gota tocava seu rosto. "Acho que vai chover", pensou. E fechou a janela.
Um comentário:
Querido!
É gostoso ler o que você escreve: maciozinho - palavras que ficam fáceis na boca, escorregam e se tornam imagens que todos vivenciamos também e tão bem.
Obrigada
Beijos
Sol
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