segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Alberto Caeiro, para abrir a primavera

Quando vier a Primavera,
Se eu já estiver morto,
As flores florirão da mesma maneira
E as árvores não serão menos verdes que na Primavera passada.
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria
E a Primavera era depois de amanhã,
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã.
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo?
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo;
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse.
Por isso, se morrer agora, morro contente,
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem.
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele.
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências.
O que for, quando for, é que será o que é.

5 comentários:

Anônimo disse...

ai ai. quem é sensível é. e ponto. sempre penso umas coisas assim (mas não com o talento do poeta, claro)

Luana Veloso disse...

bom, acho que hoje eu realmente morri... morri por dentro e a primavera continuou. Pena eu ser mais egoísta e ter querido que as flores chorassem comigo!

Nátaly disse...

Lindo poema, excelente escolha.

Suelen Maria Rocha disse...

Salut!
Eu gosto de Alberto Caeiro, pois pra ele a chuva só lhe molha...
Sua visão de mundo é simples, porém nos toca profundamente...

Bisous de Paris!!!

Deia disse...

Posso estar enganada, mas sabe aquela coisa de desdizer o que se diz? Eu leio Caeiro dessa forma. Acho que quem realmente escreveu esse poema estava dizendo o contrário do que está dito, pois colocar o oposto da verdade na boca de outro é uma forma de se proteger. Provavelmente estou errada por causa da influência da minha amargura... ^^