segunda-feira, 3 de março de 2008

Ponto Vazio


para Su, em Paris



é estranho o luto sem a morte. o luto sabendo da possibilidade da volta. um luto que faz a viagem ficar pela metade. a outra em Paris: perto e longe. perto porque a ausência está aqui, presente em cada vazio; no banco ao meu lado, no ponto na próxima cidade, na próxima cidade, em tudo. mas tudo isso terá volta. então porque o luto? por que essa falta se faz corpo?


para disfarçar a ausência e o luto seguir em paz, algumas providências:


a) não sentar no banco de sempre;

b) evitar a janela, para não ver ausências;

c) ir jantar como se fosse encontrar alguém, por mero acaso;

d) escrever, fazendo o exercício da memória.


o luto, se seguida as instruções, se faz suportável. mas, ainda assim, porque o luto?


PORQUE VOCÊ EXISTE.

EXISTÍMO-NOS.


(saudades)...



Um comentário:

Suelen Maria Rocha disse...

Bonjour.
Acabei de reler seu texto dedicado à mim... Bela imagem que eu apreendi.
Eu estou sempre de luto, mas a diferença é que todos e tudo é ausência. Estou só, nesta cidade cheia e vazia, ou melhor, cheia de vazio... Paris é a contradição em si e eu sigo em frente sempre olhando pra trás. Afinal eu deixei todos pra trás. Sei que vou chegar tarde, mas espero poder ainda sentar ao seu lado quando entrar no ônibus, espero também te acompanhar nas refeições noturnas e nas conversas sem fim... um abraço da menina de Paris