sento à mesa
(a minha, esta)
ainda não posta
ela me esconde
um copo
um prato
: uma fome
(do tamanho de minha saudade)
ela posta
aos poucos me revela
o silêncio das manhãs
(disse-me que o silêncio é a mais sincera das respostas)
às vezes esqueço
outro
copo prato (você)
hesito
um (novamente : eu)
a mesa
(da última vez você disse que precisava ir –
partir)
lições de ausência
: ir exige tempo e, acima de tudo, delicadeza.
você se foi
paciente e delicada
a mesa posta
(agora minha)
sexta-feira, 29 de agosto de 2008
quarta-feira, 27 de agosto de 2008
Natureza Morta
quiseram ao animal chamar-lhe filho. e este, brincadamente sobre suas quatro patas e rabo balançando felicidade, sabia ser - dentro de suas limitações - uma criança. foi até aí.
mesmo as crianças, apesar dos direitos, têm suas obrigações. e com o animal não seria diferente. impossibilitado pela sua natureza sem jeito, tentava executar as ordens que lhe eram dadas com a alegria dos que saltam do precipício e na queda lembra-se de que precisava de uma corda para se proteger. sem a corda que o salvaria, tudo o que fazia era amor inocente de quem brinca.
impacientes, deram-lhe a sacrifício, ele que já havia o feito, amando sem saber o quê.
mesmo as crianças, apesar dos direitos, têm suas obrigações. e com o animal não seria diferente. impossibilitado pela sua natureza sem jeito, tentava executar as ordens que lhe eram dadas com a alegria dos que saltam do precipício e na queda lembra-se de que precisava de uma corda para se proteger. sem a corda que o salvaria, tudo o que fazia era amor inocente de quem brinca.
impacientes, deram-lhe a sacrifício, ele que já havia o feito, amando sem saber o quê.
quarta-feira, 13 de agosto de 2008
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Correspondência
correria até sua residência. não sei onde resides. e falo menos de casa do que de onde vives. e onde vives é o segredo que me te guarda.
e falo menos de vozes: escrevo. o papel é minha voz que chega ao teu ouvido. o que te chega é branco. e o que te dou é minha residência. meu segredo.
respondemos-nos juntos as palavras que não são ditas e somente o som no abraço: coração com coração.
aprendi a levitar.
e falo menos de vozes: escrevo. o papel é minha voz que chega ao teu ouvido. o que te chega é branco. e o que te dou é minha residência. meu segredo.
respondemos-nos juntos as palavras que não são ditas e somente o som no abraço: coração com coração.
aprendi a levitar.
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
o outro sou
tenho, em todo universo, como única posse, meu corpo. nele habita todos os seres esparsos no universo que o circunda. quero saber de mim: vejo-me no espelho-outro. e não me vejo. vejo o outro em mim e o que vejo? apenas o espelho.
talvez estivesse falando de uma coisa única - e agora estou - mas sei que há sutilezas que fazem dos átomos matérias únicas: falo de indivíduos.
o que vêem em mim é sempre mais do que sou, mas nada além do que mostro. e todos mentem. o que de fato vejo? infinitésimas paredes brancas me foram dadas para que minha imaginação fizesse orgia. invento em cada ser um universo particular. que é meu universo. e cada outro ser vê em outro ser universos particulares que também são seu universo. e a soma desses universos é o que se chama Deus - que evoco o léxico por falta de nome e inclusão.
as paredes brancas me são agora desenhos infantis que pinto e as sinto com êxtase de criação. e quando desejo alcançar o que não sou são desenhos infantis que pergunto cadê. a resposta não vem e o que se tem é uma vernissage no limbo.
as cores me sufocam e sou um deslumbrado. alegria me consome vida. alegria de criação é um orgasmo. quase-morte. em meu deslumbramento me perco na cromatografia de universos em bricolage.
evoco Deus e Ele não vem. evoco qualquer força acima de meu corpo mas ela não vem. espero (nunca virá). um branco me assalta a vista como um relâmpago. e penso ser o tal que espero e que mais tarde saberei que nunca virá. agarro-me a essa alvura para que eu tenha motivo para respirar. e na verdade, sei que isto não é motivo. minto uma vida que não tive - e não terei.
emaranho-me em universos que não são meus e os possuo e são minhas invenções e não é nada além que o universo que sempre inventei. sou pulcinella, doutore, arlequim. a ocasião faz a máscara. me perdi em mim mesmo.
o raio branco me salva de algo que não saberei nunca. o Deus que inventei é o que me salva do oco policromático.
talvez após a minha morte, a minha metamorfose final seja a soma de todos os universos que vi(vi), que criei.
e a soma de todas as minhas cores inventadas é o mais puro branco de mim.
talvez estivesse falando de uma coisa única - e agora estou - mas sei que há sutilezas que fazem dos átomos matérias únicas: falo de indivíduos.
o que vêem em mim é sempre mais do que sou, mas nada além do que mostro. e todos mentem. o que de fato vejo? infinitésimas paredes brancas me foram dadas para que minha imaginação fizesse orgia. invento em cada ser um universo particular. que é meu universo. e cada outro ser vê em outro ser universos particulares que também são seu universo. e a soma desses universos é o que se chama Deus - que evoco o léxico por falta de nome e inclusão.
as paredes brancas me são agora desenhos infantis que pinto e as sinto com êxtase de criação. e quando desejo alcançar o que não sou são desenhos infantis que pergunto cadê. a resposta não vem e o que se tem é uma vernissage no limbo.
as cores me sufocam e sou um deslumbrado. alegria me consome vida. alegria de criação é um orgasmo. quase-morte. em meu deslumbramento me perco na cromatografia de universos em bricolage.
evoco Deus e Ele não vem. evoco qualquer força acima de meu corpo mas ela não vem. espero (nunca virá). um branco me assalta a vista como um relâmpago. e penso ser o tal que espero e que mais tarde saberei que nunca virá. agarro-me a essa alvura para que eu tenha motivo para respirar. e na verdade, sei que isto não é motivo. minto uma vida que não tive - e não terei.
emaranho-me em universos que não são meus e os possuo e são minhas invenções e não é nada além que o universo que sempre inventei. sou pulcinella, doutore, arlequim. a ocasião faz a máscara. me perdi em mim mesmo.
o raio branco me salva de algo que não saberei nunca. o Deus que inventei é o que me salva do oco policromático.
talvez após a minha morte, a minha metamorfose final seja a soma de todos os universos que vi(vi), que criei.
e a soma de todas as minhas cores inventadas é o mais puro branco de mim.
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