se eu falasse a língua dos atravessadores de desertos
se eu falasse toda a areia caída de seus
ombros,
se eu falasse ainda a paisagem árida de
seus dentes
a paisagem pura dos animais esfaimados
se eu falasse os animais assentados na
saliva seca
se eu falasse de dentro da sede dos que
morrem sob a lua
se eu falasse os
dias habitados na pele da serpente
encerrados nas
urnas que guardam as faltas todas
se eu falasse as
estrelas pendidas nas pontas dos dedos
se eu falasse o
sangue sustentado na costela ausente
se eu falasse a
mulher o homem a criança e o centro da adaga
se eu falasse as
falésias mudas pendidas na garganta
se eu falasse a
voz das flores de sua saia
fazendo ventos
em meu desejo
se eu falasse
voz corpo o que quer que seja
se eu falasse a
delicadeza deitada no mês de julho
se eu falasse as
flores cobertas de fogo
se eu falasse os
acentos inaugurais de um sorriso
se eu falasse o
nome guardado em mim esta noite
se eu falasse
se eu falasse a
verdadeira letra que iniciasse o verbo
se eu falasse os
números quebrados em teus lábios rotos
se eu falasse o
sim o não o nunca o agora
se eu falasse
então isso assim lá onde
se eu falasse
quando
se eu falasse
quente o segredo da sopa
se eu falasse a
mágoa acesa nos joelhos
se eu falasse as
pedras que choram o chão
se eu falasse
durma a grama de seu azul turbante
se eu falasse
irilisili
se eu falasse
anijiriraã
pisiriliá irujna
keresê
khraô sirilitili
keresaranaã
se eu falasse
se eu falasse.
Um comentário:
Amei esse poema Di!
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