terça-feira, 27 de maio de 2008

Escrever

escrever.

sobre o quê? sobre as coisas que não se vive, sobre a quase-impossibilidade da vida? escrever sobre o espaço que preciso para escrever e não tenho? sobre um corpo que preciso para escrever e que está morto?

escrever sob.

sob um céu cinza que mata o corpo morto; que asfixia meu pulmão. uma escrita morta. escrever só vale se sangrar. mas, e o sangue? secou há tempos. apenas o pó rubro e seco sobre o papel.

sob um labirinto claustrofóbico escrevo. num lugar que é o mundo e não é meu. Paris só o é fora do quarto, alarmaram-me duas mulheres o qual confio e amo. e que estiveram em Paris e dentro do quarto. mais ainda dentro do quarto. o quarto onde desnudavam sua solidão. um grito mudo num quarto ecoante. (uma está morta; a outra morre em estado progressivo.)

e quando não se tem nem quarto nem Paris, se escreve sobre e sob o quê?

escrevo procurando. durante. em estado gritante de desespero. (sem sangue)

2 comentários:

Anônimo disse...

mas eis aqui um surto de esquizofrenia moderada também.
gostei!
digamos que meu surto é de loucura mesmo (tripolar, alzheimer, sabe deus)
biz!

Suelen Maria Rocha disse...

Minha riqueza.

Alguns livros,
e casacos pendurados.
Uma cama encostada na parede,
uma torneira de água fria,
um espelho achado no lixo da rua.
três lâmpadas
(e nenhuma delas está no teto).

Uma mala de viagem vazia esperando uma volta
Eu piso num chão vermelho envelhecido,
marcas que carimbam passagens de várias vidas.
Desde 1900 esse prédio abriga famílias nos andares confortáveis.
bem como empregadas, estudantes e estrangeiros no sótão quente e frio.
Tenho um rádio sem antena,
que nunca tocou pra mim.

Na parede de cortiça tenho fotos afixadas para chorar a ausência daqueles que me amam.
São sorrisos que fazem minha felicidade maior.

outubro de 2008.

Diogo!
Como pude ser tão relapsa a tamanha grandiosidade...?!
Li uma mensagem que poderia ter lido com outros olhos estando lá! Agora ficou diferente, outro tom...
O que escrevi em outubro é uma resposta inconciente do que vc escreveu em maio...
Já tinha lido "Écrire" de M. Duras no meu quarto claustrofóbico... Muito do que li em Duras já tinha sentido, mas não saberia falar como ela.
Vc me fez ganhar o ano com eta bela prosa-poética
Eu agradeço por fazer parte da minha história, ou pelo menos, de contá-la no meu lugar...

CARINHOSAMENTE;
Suélen