sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Litorais

i

asas queimando ausente
em omoplatas marítimas

minha boca deita
o mar convulso

de pele e sal e saliva e
olhos de cabelos noturnos

beija a nascente onde
anjos se suicidam

deitando suas cabeças de nuvens
elétricas cindidas

em oceanos part-


ii

idos, a
lados (calados) opostos

ventre arenoso
dissolvido entre-dedos

corpo que se esvai
no olhar sempre voltado

atrás da nuca
ao norte de sua pupila

onde sou o sul de onde
ondas amputadas

são meros rostos de partida

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Genesis

uma voz em meu umbigo
‘Eloi, Eloi, lama sabachthani’,
sussurra o diabo dentro do barro onde
sou corpo.

o deus oblíquo sopra sobre
a voz dentro,
moldando a argila
para a sua primeira morte

do barro
o barro
ao barro

massa líquida que me desfaço
céu inferno
.....................impossíveis

demiurgo volátil que me invento caos.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Enigma

testemunhei teu nome no ocaso,
na certeza de mil sóis poentes.
no fogo dentro,
teu rosto era uma aparição infinita

– nascente de enigmas,

fagulhas escorrem de tua boca
o segredo de tua vinda

terça-feira, 12 de julho de 2011

Canto de Orfeu

sem saber se o que fazia era retorno ou partida

isso de te guardar em mim tem
nome impronunciável, inaudito
– iminência de nuncas.

não tem nome – retorno, partida

(É estancado no corpo, o que fica)

esse isso impregnado dentro,
essa outra carne,
esse viço

se crescendo ausente

: é nome que não se pronuncia

pernas bêbadas que te seguem
seu corpo longe par-
....................................tido na garganta

“Visione del silenzio

Angolo vuoto”


desejo.
todos os rostos seus. e não: distante sê-lo
tua presença ausente

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Onde o silêncio

a mulher na água brota braços
onde no peito
raízes líquidas a fazem árvore lacrimae

chora o corpo pedindo sede a cada

músculo
areias

ancestrais escorrendo a garganta dentro
nos seios, a gravidade invertida retorce
amores convexos onde tudo quer rasgar sóis

arco-íris obscuros cantam em sua boca
cantilena espectral,

onde o silêncio é braço soberano
onde o silêncio é dor que se cala

onde o silêncio

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os fogos

minha voz grita
a distância que seus cabelos
cantam fogos ateados.

o grito bate nos cabelos,
voz de fogo ardendo púrpura em sua
boca que guarda esse meu grito oco.

longe.

o desespero queima as idades,
meu grito estancado no vento
onde seus cabelos deitam
carícias que minha voz guarda silêncios.
– seus cabelos de rosáceas mudas.

grito o desespero oblíquo de não tocar-me

os seus cabelos que não
me batem luzes líquidas
a sua boca que guarda
em mim o teu silêncio

– grito que seus cabelos em minha boca
sepulta

o que de ti me calo

sexta-feira, 3 de junho de 2011

Cisão

o outono nasce uma rosa de fogo
com rostos revirados em costas ancestrais

olho estrangeiro
– morno – dentro
de umbigos inversos

danças guardadas

no segredo de a-
braços retorcidos
em distâncias petrificadas

olhar umedecido
procurando-me à nuca
órfica

(eu, olhar estancado, colecionando nuncas)

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Eva


nascentes de borboletas
é a costela de Adão

: enlaça-o ventre oco
com asas de gavetas
em estiletes simétricos

asas de luz óssea
rebentando nascenças
invertidas

cadafalsos de placenta
do homem-janeiro

– anunciado por frutas fendidas

amanhece o homem
na pétala que lhe nasce carne,
das asas que lhe sai fêmea

a que o envolve carocidade

terra escutada
no rosto no grito

primal