estava no cais. sempre estava. gostava de ver navios. há tempos havia tomado gosto por eles. não sabia quando começou. talvez muito antes de sua existência.
seus olhos grudavam no casco do navio, como as ferrugens em suas placas de metal. a própria ferrugem o fascinava. não se sabia a cor de seus olhos: se eram castanhos ou se foram tomados pelo encanto que tinham pela ferrugem.
a imensidão do navio. sua grandeza majestosa. o sol no poente, visto de trás do navio era pouco, perto de sua grandeza. o menino crescia junto.
crescia e se rendia à beleza do transatlântico.
todo os dias o menino ia de encontro ao navio, como o fígado Prometéico que se regenerava à águia faminta - como um amante obediente à sua amada.
mas o navio não se regeneraria após a partida. ao singrar à curva do horizonte, nunca mais voltaria àqueles olhos castanhos.
os olhos, ferrugem, sabiam muito bem: eram sol que se apresentava independente das nuvens que pudessem lhe cobrir a cidade, razão de seu brilho.
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