terça-feira, 7 de outubro de 2008

Sobre Flores e Trens Cargueiros

um trem cargueiro em mim se torcendo dentro. circunvoluções em volta do mesmo espaço mínimo e íntimo. peito de um corpo.

uma flor fora: cuidado que não me dou (as flores sobreviverão antes que eu despetale?). amanhã, talvez, a flor morra.

antes, tenta vencer, indo de encontro ao céu ao sol e só. com sua pouca e parca força. porcamente acinzentada. amarela. pálida. (recolhida de algum jardim drummondiano).

o trem dentro quer a flor fora: convulsão estática.

o corpo pára numa tensão de rocha labiríntica prestes à erupção. a flor à espreita fora provoca o trem dentro. dentro, o trem - no espaço intransponível - quer o cio da flor.

a flor em sua vaidade opaca quer o único ser que a vê. um ser que ao mínimo contato a estraçalhará. ela quer a violência dele.

a caminho de sua definhação ela se excita, como um sexo diante outro, desejante. sua pulsão máxima. quase brilho. ouropel.

o trem se debate no peito mínimo que já há muito não lhe cabe. a flor se desepera em êxtase. o corpo não vê flor nem trem. não tem memória.

a flor despetala-se num vaso poeirento num quarto qualquer. o trem turbulento, faz formigações no corpo.

e em mim, um mal estar no corpo - pele descascando - pensando no que poderei fazer amanhã.

(que talvez não venha)

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