quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Brasileira Preta


8 p.m.
espero o ônibus. atrasa mais que o normal. mesmo indo a alguns pontos antes, o pego lotado. tenho um livro às mãos. tentarei o milagre de lê-lo durante a viagem. próximo ponto: mais pessoas entram onde não cabe mais ninguém (generosidade seria isso: dar espaço ao outro onde não mais têm?) mochila nas costas, mão no ferro e na outra o livro. as pessoas passam. e quase me levam. respiro fundo e mantenho a atenção no livro (ou tento...) alguns passam para onde já não tem mais espaço. e tentam me levar. quando não eu, minha mochila. outros param. e se escoram em mim. tento me esquivar, mas inútil. paro a leitura: 1x0 pra galera do ônibus. tento me distrair com a paisagem externa concretacinzentada. o homem ainda escora em mim. (acho que agora intuo o que Clarah queria dizer com "brasileira preta" - woman is the nigger of the world.) a viagem é conturbada. mesmo com mais espaço, as pessoas ainda tentam me levar. desço do ônibus com pernas e braços doendo (academia pra quê?) vou ao trabalho. nada. vou ao banco. nada ainda. não sei mais aonde ir... nada... volto pra casa depois de tanto protelar em algo já dado: não há pra onde correr.

pois é, Rimbaud: ao me foder, nem era meio-dia.

P.S.: o livro que eu lia se chama: "É isto um homem?".
qualquer coincidência é mera semelhança.

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