quinta-feira, 27 de março de 2008

Dentro

-menino, ajeita essa coluna, levanta essa cabeça!
-é que eu sou pra dentro...

quinta-feira, 20 de março de 2008

Summer's Gone

no rádio ouço Placebo, Summer's Gone. fugindo do dia, o dia inteiro. querendo encontrar alguém que ainda não existe. ou alguém que existe e não se pode estar. Summer's Gone. E com ele era, também, para ter ido o meu tédio. e não foi.

me cerca por onde vou, por onde estou. fujo do mundo indo de encontro a ele, mas o único lugar para o qual ele me manda é justamente o único lugar onde não queria estar: minha casa. aquela que não é minha.

Summer´s Gonne. e achei que com ele iria esse eterno domingo que não acaba. o que se foi são essas pessoas que não acho, os lugares que não existem, o mundo que inventei... fica-me o impossível.

tenho saudade de um passado que não existiu; de um passado que só existe em minha cabeça. e é isso que angustia. e quando olho fora de minha lembrança, o domingo está ali: azul, límpido, brilhante, com um céu imenso e vasto. em câmera lenta. olho o domingo-espelho e a imagem que reflete é a de um rosto morto, vencido pelo tédio. um corpo andante pelo azul afora esperando a hora de morrer.

esperava que, quando o verão se fosse, encontrasse folhas mortas que ressurgiriam na primavera. que encontrasse um céu cinza e um vento gelado que fizesse com que eu sentisse meus ossos; sentir que , afinal, existo.

o céu está azul. mas já é outono. o tédio ainda é do eterno verão. mas talvez eu tenha exagerado um pouco e tomado a parte pelo todo.

hoje.

summer´s gonne...

Outono

Chanson d'Automne

Paul Verlaine

Les sanglots longs
Des violons
De l'automne
Blessent mon coeur
D'une langueur
Monotone.

Tout suffocant
Et blême, quand
Sonne l'heure,
Je me souviens
Des jours anciens
Et je pleure;

Et je m'en vais
Au vent mauvais
Qui m'emporte
Deçà, delà
Pareil à la
Feuille morte.


Canção de Outono

(Tradução: Guilherme de Almeida)
Estes lamentos
Dos violões lentos
Do outono
Enchem minha alma
De uma onda calma
De sono.

E soluçando,
Pálido, quando
Soa a hora,
Recordo todos
Os dias doidos
De outrora.

E vou à toa
No ar mau que voa.
Que importa?
Vou pela vida,
Folha caída
E morta.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Écrire

a escrita vai se fazendo. preguiçosa e despretensiosamente. é difícil. mas não dá para parar silmplesmente por causa de dificuldades lingüísticas tais como:

y-gosto de kandinski, miró.
x-gosto de magritte, picasso. caravaggio...
y-mas peraí: caravaggio é outra coisa.
x-não é não: são só nomes.

a máquina vai funcionando. entre uma preguiça e outra, a escrita vai se (trans)-formando. mais um rascunho que fica.

fim(-n-)da última postagem.

terça-feira, 4 de março de 2008

Seca

... e o leito se fazia vazio (de nós dois)...

segunda-feira, 3 de março de 2008

Ponto Vazio


para Su, em Paris



é estranho o luto sem a morte. o luto sabendo da possibilidade da volta. um luto que faz a viagem ficar pela metade. a outra em Paris: perto e longe. perto porque a ausência está aqui, presente em cada vazio; no banco ao meu lado, no ponto na próxima cidade, na próxima cidade, em tudo. mas tudo isso terá volta. então porque o luto? por que essa falta se faz corpo?


para disfarçar a ausência e o luto seguir em paz, algumas providências:


a) não sentar no banco de sempre;

b) evitar a janela, para não ver ausências;

c) ir jantar como se fosse encontrar alguém, por mero acaso;

d) escrever, fazendo o exercício da memória.


o luto, se seguida as instruções, se faz suportável. mas, ainda assim, porque o luto?


PORQUE VOCÊ EXISTE.

EXISTÍMO-NOS.


(saudades)...